Faço algumas vezes a pergunta: “Se te dissesse que há alternativas à palmada, gostavas de saber quais são?” São raras as vezes que recebo um resposta positiva. Mas noutro dia disseram-me “Então, Mia, quais são as alternativas?” . Pensava que tinha decidido não me pronunciar muito mais sobre este assunto em público, mas senti que queria partilhar algumas coisas também aqui. Neste momento sinto que é a última vez que o faço e agradeço a tua iniciativa de ler este artigo!
É importante referir que não há nenhuma solução para as crianças se ”portarem bem” sempre. Sei que era bem conveniente, mas se pensares bem, para as crianças se poderem ”portar bem” é obrigatório portarem se também ”mal”.
A principal alternativa à palmada resume-se desta forma:
Cria um espaço entre emoção e reação. Neste espaço não existem palmadas e muitas vezes bastam uns segundos para conseguir faze-lo, desde que tenhamos essa consciência. E a partir desse espaço, podemos escolher estratégias diferentes.
Antes de continuarmos gostaria de referir que a principal intenção que tenho com este artigo é convidar à reflexão profunda. Quero fazer isso principalmente através de partilhas de artigos de outras pessoas que abordam o assunto de uma forma muito profissional. Quero começar por partilhar dois artigos que falam extensivamente sobre o porque de as palmadas não funcionarem e como podem ter consequências indesejadas (o termo em inglês ”spanking” refere-se a palmadas; “sacudir o pó” e “a palmada na hora certa” incluídos):
The case against spanking (American Psychological Association)
Should You Spank Your Child?
E agora para as alternativas. Para te poder oferecer informação a mais completa possível sobre este assunto partilho uma lista dos artigos que tenho guardados para situações em que pais realmente procuram alternativas. São artigos claros e muito úteis para quem tiver abertura. A melhor forma de os ler é com uma mente de principiante, evitando julgamentos enquanto os lês, refletindo sem os teus filtros habituais.
Alternatives to Spanking
Discipline No More
How Can You Learn to Behave, If You´re Never Punished?
No Bad Kids – Toddler Discipline Without Shame (9 Guidelines)
The Discipline Question No One Can Answer
Twenty Alternatives to Punishment
Se explorares mais um pouco este blog também vais poder encontrar artigos que poderão ser úteis para quem está com vontade de experimentar algo diferente.
Dois dos comentários mais frequentes que ouço nas discussões sobre palmadas são “Eu levei palmadas e estou bem” e “Eu mereci as palmadas que levei” . Se estas são frases que costumas utilizar, então convido-te a ler e refletir sobre o que é discutido nos seguintes artigos.
But I Was Spanked and I’m OK
“I was spanked and I’m OK” A few things that say I’m not.
“I Was Spanked And I’m Fine!”
Além desta informação toda, como sempre, é necessária uma boa dose de paciência e uma grande porção de amor incondicional. Ingredientes que estão ausentes quando damos uma palmada e fundamentais na educação/orientação de uma criança.
Aproveito também para referir que esta informação serve igualmente para substituir castigos, lutas de poder e berros.
Somos extremamente condicionados e todos nós podemos ter reações fortes de vez em quando. Se tivermos sido ensinados a acreditar que as palmadas são uma boa estratégia educativa, e se elas ainda por cima parecem estar a “funcionar” para nós (porque palmadas podem mesmo funcionar, mas saliento que é só para nós, nunca para a criança e é a curtíssimo prazo e provavelmente não alinhado com o que queremos como pais ao longo prazo), então claro que vamos ter mais tendência de as usar e vontade de as defender.
Entendo que palmadas muito ocasionais possam acontecer. Se tivermos consciência dos nossos atos, podemos utilizar esse tipo de situações para fazer boas aprendizagens de ambos os lados. Estou perfeitamente de acordo com as pessoas que dizem que “não existe uma forma absolutamente correcta de educar uma criança” e também não acho que “por detrás de cada gesto desregrado existe um trauma escondido” (que foi um comentário que li recentemente) mas sei que por trás de cada comportamento desafiante existem necessidades e emoções que necessitam de ser reconhecidas e prefiro procurar entender o que está de trás de um comportamento (mesmo que as vezes me custe) do que corrigir um comportamento com uma palmada e temporariamente enterrar emoções e necessidades. Porque sei que quando conseguimos fazer esse reconhecimento a situação muda por completo. E sei que isso muitas vezes pode demorar mais tempo, outras vezes até menos, e está tudo bem.
Também sei que se não ponderarmos bem as nossas intenções como pais, nunca vamos poder avaliar se o que estamos a fazer é o certo ou o errado no nosso caso específico (nunca encontrei ninguém que tenha feito isso antes de ter filhos, eu incluída, mas agora já tenho as minhas por escrito). Utilizar a palmada como uma forma consciente de educar uma criança é completamente diferente. Acredito que serão muito, muito poucos os pais que, ao definirem bem os seus valores e as suas intenções, e que façam bem o trabalho de casa sobre palmadas, consigam honestamente defender a palmada como estratégia educativa.
Não tenho interesse absolutamente nenhum em entrar em discussões sobre se se deve dar palmadas ou não. Eu tenho a minha opinião (bastante rígida, eu sei!) e não tenho paciência 🙂 para tentar convencer ninguém que apenas está interessado em defender as palmadas e que não está minimamente interessado em ponderar outros pontos de vista. Podes querer acusar-me do mesmo e terás razão. Mas por favor, não precisas de te defender, nem invistas tempo em tentar convencer-me do contrário se tiveres essa vontade. Basta acordarmos que este artigo não foi para ti. Não sinto falta nenhuma de utilizar palmadas. Lamento se te sentires ofendido ou chateado. Se isso for o caso, convido-te a explorar as verdadeiras razões dessas emoções, isso é uma reflexão que poderá (e deverá) demorar algum tempo.
Mas se há algo em ti que está a chamar a tua atenção, sugerindo que a palmada se calhar não é a melhor opção (“dói-me mais a mim” e sensações de culpa, por exemplo, são ótimos sinais dessa chamada de atenção), então espero que explores bem a informação que partilhei e se quiseres podemos conversar!
Nasci e cresci num pais onde a palmada não existe como opção na educação. A lei é muito dura e explicita e nem sequer existem este tipo de discussões na sociedade. O meu condicionamento neste aspeto provavelmente é bastante diferente do teu. Onde eu vivia os adultos nem sequer pensam em alternativas à palmada porque ela nem sequer existe como alternativa. Se és defensor da palmada (e continuaste a ler até aqui! Obrigada!) ou se continuas com dúvidas, gostava de te convidar a fazer uma pequena experiência. Imagina que te oferecessem um trabalho na Suécia. Um trabalho espetacular, muito bem pago, com condições maravilhosas. Queres aceitar e isso implica ir viver para lá com a família toda. Vai haver as mesmas situações lá como cá nas quais costumas escolher dar uma palmada. Só que lá, essa opção é muito arriscada, porque é algo que poderia ter consequências graves impostas pelas autoridades… Achas que valeria a pena realmente perceber e procurar praticar as alternativas ou preferias deixar passar a oportunidade? E que tal experimentares, verdadeiramente, durante pelo menos 1 mês? E se mesmo assim acontecer uma ou outra vez, não faz mal, não te julgues e prima “reset”!
Se em vez desta conversa e estas partilhas todas apenas pudesse utilizar uma frase para exprimir o porque disto ser tão importante, provavelmente seria: Como grande defensora de paz, interior (para mim e os outros) e exterior, palmadas como opção simplesmente sai fora do mapa.
Mais uma vez, obrigada por investires tempo e energia para saber mais sobre ”as alternativas”.
Até breve,
Mia
Imagem: jerryfergusonphotography
Obrigada pelos seus textos, sem dúvida que me tornam uma mãe melhor!
<3 Obrigada Liliana!
Oi,
Sempre acompanho seus posts pelo facebook e acho que você tem uma habilidade preciosa de traduzir ideias e reflexões profundas de forma singela, objetiva e precisa.
Hoje, publiquei um post no meu blog e ficaria muito feliz em saber a sua opinião sobre o meu relato. Se tiver um tempinho pode ler neste link: http://verdemamae.blogspot.com.br/2014/08/birra-ou-emocao.html
Um grande abraço e até logo,
Jaqueline Lima
http://verdemamae.blogspot.com.br
Obrigada Jaqueline! Gostei das suas reflexões!
Até breve,
Mia