Academia de Parentalidade Consciente

Super Nanny, vale mesmo tudo por uma grande audiência?

de Diana Gaspar

Super Nanny chega à televisão para ajudar famílias e crianças, com a intenção de clarificar quem manda e quem tem de obedecer, quem é o tirano e quem se deixa tiranizar, quem está certo e errado com a intenção de nos esclarecer a todos, como transformar uma criança mal educada e insolente numa criança obediente e sem birras.

Não bastasse tudo isto, tem a bondade de nos mostrar estratégias para os momentos mais difíceis e mais duros de uma grande birra e de uma série de comportamentos inadequados, de forma generalizada, clara e sem espinhas, diria eu ao ouvi-la falar!

Super Nanny chega à televisão para resolver um problema de sempre, birras e crianças mal educadas com pais à beira de um ataque de nervos, com cada uma das famílias com quem trabalha, ou não, uma vez que a Nanny é psicóloga mas não está como psicóloga, o que me deixa baralhada quanto ao seu real papel e à sua verdadeira intenção.

Afinal, está como psicóloga ou não? Se não, porque se diz psicóloga utilizando de forma desapropriada técnicas (questionáveis ou não!) que só os psicólogos deveriam usar? Se sim, onde está a aplicação dos princípios deontológicos a que é obrigada a praticar, na sua atividade profissional?

Acredito que a Super Nanny até poderia ter a melhor intenção mas tudo fica sem sentido, quando se permite que um menor, mesmo com a permissão dos seus pais, seja exposto, nas sua fragilidade máxima, a um programa de televisão que tem como único objetivo captar audiências. A Super Nanny até poderia ter a melhor das intenções se não violasse de forma clara o direito que tem cada criança a viver a sua vida privada, a colocar os seus limites de exposição tendo toda a informação necessária no que diz respeito à sua vida.

Onde está afinal o superior interesse da criança?  A Super Nanny até poderia ter a melhor das intenções se ela própria, aquando do convite que lhe fizerem, tendo em conta o conhecimento que a sua profissão proporciona, de se opor a este tipo de formato televisivo que não olha a meios para chegar aos seus fins – audiências – nem que para isso se viole princípios éticos.

Qual é mesmo o preço a pagar para o uso da imagem de uma criança a berrar, a chorar, deitada o chão, a pedir da única forma que sabe – pelo comportamento – , que olhem para ela e para a sua dor? Quanto vale captar famílias vulnerabilizadas pelo seu desespero, para participarem num programa que lhes vai resolver um problemas e criar infinitos para o resto da vida? Como se sentirá cada uma destas crianças quando andar na rua e todos a olharem como a “tirana” do programa da Nanny? Super Nanny para além de não ajudar, ainda prejudica, tal como nos diz o princípio da não maleficência e da beneficência.

Se a sua intenção é ajudar, volte para o seu gabinete e use a sua vasta experiência de acordo com o código deontológico da sua profissão. Se não está como psicóloga, e a sua intenção é audiências, então desejo que se sente a ler a declaração do Direito Universal das Crianças e  documento que explica o Superior Interesse da Criança na perspectiva do respeito pelos seus direitos. E não, querida Nanny, não vale tudo por uma grande audiência…

One comment

  1. Vamos, mas é, educar os “papás”, para depois eles saberem educar os filhos.
    Em relação á exposição da criança, não comento, só pergunto aonde anda a dita ” Proteção de Menores”?

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