Academia de Parentalidade Consciente

A Mãe antes da Parentalidade Consciente

Antes de conhecer a Parentalidade Consciente, eu era uma mãe que exigia notas altas ao meu filho. Para mim o facto de ele ter notas altas significava que tinha aprendido bem a matéria, que era um aluno aplicado e isso garantia-me que ele passaria de ano. O que me deixava descansada e trazia imenso orgulho, óbvio!

Quando o ano lectivo passado iniciou, eu já tinha decidido que não lhe cobraria mais notas altas. Só que esta situação para minha surpresa, tornou-se um processo difícil para mim, porque senti que ainda não aceitava muito bem os “suficientes”. E para “ajudar”, ele baixou as notas! A média dos 1º e 2º períodos foi de dois “Bons” e dois “Suficientes”. Nessa altura quando o ía buscar à escola num dia que tivesse recebido as provas e as trazia para casa para eu assinar, o diálogo começava assim:

Mamã recebi hoje as provas – dizia ele

Ai foi filho? E então?

Hmmm… não gostei do resultado de duas

Ai sim? Quais foram?

Suficientes a Português e Estudo do Meio

E não gostaste porquê filho?

Porque são baixas. Eu posso ter mais altas.

Ok, tu podes ter notas mais altas. E tu queres ter notas mais altas? (Fiz-lhe esta pergunta para perceber se é da vontade dele ou se quer satisfazer à minha vontade)

Sim quero.

Ok. Então o que é que tu podes fazer para teres notas mais altas?

Estudar mais – disse ele.

E que mais? (Fiz-lhe esta pergunta porque o meu filho nas provas distrai-se com muita facilidade e isso contribui muito para que tenha um resultado mais baixo do que teria se estivesse atento)

Estar mais atento – respondeu ele.

Tenho o hábito de ler as provas antes de as assinar para perceber onde especificamente ele está a precisar de estudar mais, onde esteve bem e onde esteve distraído. Da última vez que isso aconteceu e depois de já lhe ter feito as perguntas acima, chamei-o e disse-lhe:

Filho estive a ler as tuas provas e reparei que desta vez não só estiveste distraído como também tiveste pressa em acabar o teste de Português. Isto é verdade?

Resposta: é óbvio mamã! Tu já viste quantas páginas tem o teste? Umas 7 (eu contei e tinha 8)! Eu tenho outras coisas pra fazer. A minha vida não é só isso!

Esta resposta noutros tempos teria desencadeado em mim uma crise de nervos! Mas naquele momento eu tive de me controlar para não rir porque ele foi tão espontâneo, tão autêntico, tão criança…, e ao mesmo tempo o pensamento que me veio foi: o miúdo tem razão!

Claramente eu não tenho dado espaço ao meu filho para ele assumir esta responsabilidade, para lidar com as consequências sejam elas quais forem, não estou a demonstrar ao meu filho amor incondicional e não estou a ajudá-lo a desenvolver uma auto-estima saudável.

Quando trago para as minhas reflexões, as minhas intenções enquanto mãe consciente, esta questão das notas passa a ser um ponto tão insignificante…, porque tal como o meu filho disse lá atrás: “a minha vida não é só isto”, eu digo: a vida dele não é mesmo isto! A vida dele não são as notas. A vida do meu filho é sobre ser feliz; é sobre se encontrar a si mesmo nos seus processos, nas suas experiências e daí escolher o caminho que quiser seguir e isso não depende das notas. A minha escolha enquanto mãe é ajudar o meu filho a desenvolver uma auto-estima saudável, a demonstrar-lhe amor incondicional e ajudá-lo a assumir as suas responsabilidades pessoais.

Por Catila Cunha