Academia de Parentalidade Consciente

Como lidar com a “ingratidão” dos nossos filhos na hora de abrir os presentes

– Não há mais prendas?!

– Oh…. só tive 5 prendas… A Constança teve mais duas!

– Eu queria V Bucks para Fortnite, não o Monopoly!!!…

– Os headphones que eu queria não são desta marca!

E lá estamos nós, em frente da família, a ter de encarar a vergonha da “ingratidão” dos nossos filhos.


1. RECONHECE EM VEZ DE JULGAR

A primeira reação da maioria de nós quando ouvimos uma frase destas é de julgamento, de justificações ou tentativas de “salvar” a criança das emoções de desilusão.

– Isso não se diz! És um ingrato!

– Sabes, a marca que tu querias é muito cara e nós não temos dinheiro para isso.

– Oh, meu querido, não fiques triste… olha aqui, este brinquedo é tão giro!

Nenhuma destas opções ajuda na realidade a criança a sentir-se mais contente, nem a encontrar outras formas, mais socialmente aceites, de exprimir o que sente. Muitas vezes a conversa continua:

– Pois, sabes, não podemos ter tudo o que queremos e tu estás a ser um menino mimado!

– Não estou nada! Não é justoooooo

e lá acabamos por nos chatearmos e o espírito natalício sofre.

A alternativa é aceitar a reação da criança e reconhecer a emoção. Por exemplo:

– Os headphones que eu queria não são desta marca!

– Estavas cheio de esperança que ias receber os Headphones de Beats, não era?

– Sim…

– Pois, as vezes estamos com tanta, tanta esperança e queremos tanto uma coisa e quando não a recebemos é uma sensação mesmo desagradável, não é?

E a boa educação?! Bom, claro que a boa educação é importante. E é a nossa tarefa como pais mostrarmos aos nossos filhos o que significa agradecer, praticar gratidão e ser bem educado. No entanto, num momento de stress/ansiedade/frustração a criança não está numa boa condição para aprender. Primeiro, temos de tomar conta da emoção, para depois podermos ter o diálogo necessário para o resto. Neste caso, como podemos ser honestos e verdadeiros e exprimir a nossa desilusão sem sermos desagradáveis.

2. ASSUME RESPONSABILIDADE PESSOAL

Se segues o meu trabalho já sabes que um dos valores da parentalidade consciente é a responsabilidade pessoal. Nesta situação a responsabilidade de cada um é fundamental. Se tu estás envergonhada por causa do comportamento do teu filho, então isso, na realidade é um problema teu e não o do teu filho. Podes eventualmente argumentar ao contrário, mas não vamos chegar longe. 😉 Eu sei que não é fácil aguentar estas situações sem fazermos a coisa supostamente “certa” que é reprimir o nosso filho. Se tu estás muito preocupada nesta situação então isso é um excelente convite para tu lidares com as tuas emoções e as tuas necessidades. O que sentes e porque é que sentes o que sentes? Fala com o teu filho sobre o que sentes. Fala com as outras pessoas sobre o que sentes. E deixa as outras pessoas e o teu filho fazerem o mesmo. Deixa cada um assumir a sua responsabilidade pessoal.

E mostra com o teu comportamento como se recebe prendas que não era bem o que crias através das tuas reações autênticas (a criança vai saber se estás a fazer de conta!).

3. PERCEBE A SATISFAÇÃO

Eu adoro receber massagens. Claro que não as recebo tanto quanto gostaria. E não houve nenhuma única vez na minha vida em que me senti totalmente satisfeita após uma massagem. E quando acaba, agradeço… mas com alguma desilusão presente… Quero sempre mais! E não é porque não gostei, é precisamente porque gosto tanto!

Em vez de julgares a desilusão do teu filho, ouve e reconhece a satisfação!

– Não há mais prendas?!

– Não. Já foram todas entregues. Vi como te divertiste enquanto estavas a abrir as prendas! Era bom poder prolongar este momento, não era?

4. DEIXA A CRIANÇA SENTIR O QUE ESTÁ A SENTIR

Ao reconheceres as emoções da criança, ao notares a satisfação e ao assumires e deixares assumir responsabilidade pessoal, só falta uma coisa nesta partilha. Deixa a criança sentir o que está a sentir! Ficar triste porque algo bom está a acabar não é mau. É humano. E aprendemos a lidar com isso com pessoas que nos guiam gentilmente. Não precisa de ser como para muitos de nós, ir de uma insatisfação exageradamente demonstrada, para a mentira.

 

One comment

  1. Muito obrigada, as suas palavras vieram aliviar o “fardo” que ando a carregar por saber o que o meu filho vai receber da madrinha. Agora já me posso treinar na reação.
    Apesar de não crente acredito que nesta altura aproveitamos para relembrar como o amor, compreensão, carinho e estender a mão ao outro são importantes para a continuidade da espécie humana, por isso, boas festas

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