Academia de Parentalidade Consciente

Da Aceitação…

de Augusta Dantas

Sempre me vi como alguém que receava a mudança. A simples ideia das coisas fugirem ao meu controlo e de sair da minha zona de conforto, assustava-me imenso. Contudo, e paradoxalmente, a minha curiosidade em conhecer outros mundos e sair da minha concha crescia cada vez mais. E foi crescendo, crescendo até ao dia em que me encontrei numa nova relação, num novo país, numa nova vida…

A vida levou a miúda que tinha medo de não ser capaz de enfrentar o desconhecido, a pôr os pés ao caminho e a ir, a ir lá longe, lá longe, naquele que ela acreditava ser o sitio onde a magia acontece. Esse sítio era um reino bem no fundindo de África. Um reino mesmo a sério, governado por um rei rodeado de princesas, e com uma cultura muito singular. Um reino de bruxas e vassouras voadoras, de trovoada fortíssima e relâmpagos que tiram a vida, mas também o reino de um povo de sorriso largo e convidativo e de montanhas encantadoras com contornos suaves e verdejantes. Das memórias da vida nesse reino, guardei sempre com especial atenção um momento que captou a minha atenção, até hoje. Acho que muito pelo facto de ter crescido a ver constantemente a imagem do Pensador, a escultura africana do homem que sentado, apoiava a cabeça entre os braços sempre me intrigou… Nunca percebi verdadeiramente o seu significado até ao dia em que no topo de uma montanha nesse reino longínquo, vejo a imagem de um vulto já idoso, que sentado num grande rochedo, segurava estático um grande cajado. Para mim aquela imagem foi mágica!!!

Embora nem soubesse explicar muito bem porquê! Mas era como se aquele homem aglomerasse na sua figura tão esguia e aparentemente frágil uma força e um poder tremendos, envoltos em imensa quietude! Quase como se ele fosse detentor da chave que eu acreditava guardar o segredo da felicidade eterna!! Naquele momento eu vi-o como um ser superior. Um ser sentado no topo do mundo, rodeado de um silêncio encantador e de montanhas mágicas. Lembro-me de ter pensado que só um ser com uma paz interior tremenda estaria ali naquele sítio tão longínquo  imanando tanta serenidade.  Confesso que, por momentos, o invejei. Questionei-me se algum dia me conseguiria sentar ali naquele país e sentir essa mesma paz. Nunca aconteceu. Sentei-me noutras rochas de outras montanhas desse reino maravilhoso, mas nunca o consegui. Agora percebo que não seria possível isso acontecer porque naquele tempo eu fugia de mim. Tinha medo de parar e de me olhar. E quem foge fica ofegante e ansioso. Quem foge não se encontra, esconde-se e quem se esconde não está em paz.

Até hoje. Hoje três anos depois, sentada numa pedra bem pequenina, num cenário aparentemente não tão encantador, numa tarefa bem corriqueira como passear o cão, e rodeada de montanhas mais pequenitas e não tão verdejantes, eu senti-me no topo do mundo porque me senti em paz. Enquanto ouvia o uivar do vento e observava as matizes de verde que o jogo de sol e nuvens refletia nas montanhas, recordei aquela figura misteriosa. Lembrei-me do que gostava de ter sentido na altura perante um cenário que me deslumbrava diariamente. Lembrei-me de ter perfeita consciência de que aquelas montanhas me tentavam falar e eu não as percebia. Agora percebo que não estava disposta a ouvi-las. A ouvir-me. Hoje ouvi e hoje não tive medo.

 A miúda que tinha medo de não ser capaz de enfrentar o desconhecido, percebera agora que afinal sempre tivera medo de se enfrentar a si própria. Hoje enfrentei-me, vi-me, aceitei-me e aceitei a minha vida.

E não, a magia não acontece lá longe, em reinos encantados, a magia acontece dentro de nós quando acreditamos e aceitamos que as coisas são como são.

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