Para um dos meus filhos a adolescência chegou num dia numa hora precisa e, até ver, mantém-se por cá.
Houve um dia, há cerca de dois anos, em que às 7 horas da manhã fui acordar um dos meus filhos e TUDO tinha mudado: a voz era agora… diferente. Parecia que tinham instalado na laringe umas cornetas que, no meio de uma entoação ainda conhecida para mim, eram sopradas produzindo uns sons diferentes, ora graves ora agudos. A forma como me olhava era diferente, a pele parecia-me diferente, com um tipo de brilho… diferente, a forma como se movia era diferente… A sensação que tive foi que aquele meu filho era um filho novo, como se durante a noite um extra-terrestre tivesse entrado dentro dele e assumido o controle.
Sei agora que o mesmo fenómeno acontece com algumas mães (não conheço ainda nenhum pai que tenha tido esta sensação, mas devem existir…) porque já me cruzei com elas e trocando experiências percebemos que para alguns dos nossos filhos a adolescência emerge (pelo menos aos nossos olhos e para o nosso coração) num dia específico a uma determinada hora.
Questionei-me se teria sido pouco atenta, presente e disponível e se na realidade aquela adolescência já teria chegado em doses pequenas que se teriam instalando tornando-se apenas naquele momento visível, audível, “sentível”.
Pensando no tipo de mãe que sou ainda fiquei mais desconcertada. Sempre fui daquelas mães que comprovam a teoria da evolução das espécies. Sempre tive comportamentos dos que se vêm entre os macacos que catam os filhos, mesmo estando os meus filhos livres de bicheza. Sempre perscrutei as suas cabeças deitadas no meu colo com as minhas mãos, com os meus olhos, com o meu nariz e com o meu coração e o mesmo para os seus braços, mãos, corpos e pés. Desde que se entregasse ao meu colo era como se tivessem entrado num scanner chamado “Mãe” que, no meio de festas e carinhos, gravava tudo. Sei agora que instintivamente decorava tudo. As cores, as formas, os cheiros e também as emoções e como elas se manifestavam nas sobrancelhas, nas orelhas, nos cantos da boca, nas mãos, no pescoço, nos pés, na forma como pisavam o chão consoante o humor tudo era (e é) importante para mim.
Foi por saber o meu filho de cor que me espantei e surpreendi tanto com a mudança operada naquele “novo” filho. Sempre ali tinha estado e ao mesmo tempo acabava de chegar. Como iria ser agora?
Com o tempo percebi que o meu scanner tinha que evoluir para uma nova versão e que tinha que funcionar em alguns momentos numa dimensão wireless, como por exemplo quando o meu adolescente recém revelado me dizia “mãe, deixa-me, já não sou nenhum bebé” e noutras num regime antigo, analógico, conhecido em que me dizia (e ainda diz): “nunca mais te deitaste comigo, aqui na cama, como fazias quando eu era pequeno” ou mesmo “podes-me fazer umas festinhas como fazias quando eu era pequeno?”
Percebi que tanto eu, como o meu filho temos treinado e aprendido toda a vida para sermos o que somos: eu mãe e ele filho e que estamos agora numa nova fase do treino, eu mãe de um adolescente e ele filho adolescente. Na essência, somos, o que sempre fomos eu, a mãe, ele, o filho.
A base da nossa relação mantém-se imutável, a estrutura também, continuamos mãe e filho, mas agora numa dimensão completamente diferente. O amor é, e será sempre, o mesmo.
Maria José Pita
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