Academia de Parentalidade Consciente

Um Processo de Aceitação – Parte 2

Se ainda não leste a Parte 1 do artigo “Um Processo de Aceitação”, aproveita agora e lê aqui.

Capítulo II

 “A Luz testou-me”


O meu pai sugeriu-me há cerca de um ano que a Luzinha estudasse piano:

“É uma pena vocês terem um piano em casa e ninguém tocar. Se a Luz começar a tocar desde pequenina, aumenta a probabilidade de permanecer no piano mais tempo que tu.”

Se leu o capítulo I deste exercício reflexivo, compreende que este é um assunto “delicado” para mim. Esta conversa surgiu há um ano atrás e apanhou-me desprevenida.

Conversei com o meu marido sobre o assunto e decidimos adoptar uma atitude verdadeiramente “begginner´s mind”. A prática de Parentalidade Consciente é uma dádiva para os nossos filhos e para nós, possibilitando sempre novos caminhos e novos começos. Concluímos então que: “esta será uma boa oportunidade para a Luz aprender a tocar. Ela até tem vindo a demonstrar interesse crescente pelo piano que temos em nossa casa”.

Aceitámos a oferta generosa do meu pai. Falámos com os miúdos, que ficaram entusiasmados, e decidimos que o Afonso também seria inscrito.

Este ano lectivo,  os irmãos começaram juntos este caminho.

A Luz tem 6 anos está nas aulas de piano e formação musical, o Afonso tem 5 anos, por ser mais novo apenas frequenta a formação musical e ainda não tem aulas de nenhum instrumento.

Intenções

  • Ter uma atitude com a Luz diferente da atitude que o meu pai teve comigo:
  • Promover e motivar o contacto com a música
  • Encarar o estudo de um instrumento como um prazer e não como uma obrigação
  • Apoio emocional em momentos avaliativos (testes)
  • Aceitação da sua escolha em caso de desistência

Estratégias utilizadas

A Luz gere a sua convivência com o piano, havendo dias que não toca nada e para nós está tudo bem! Quando noto que passa alguns dias sem tocar:

  • Sento-me ao piano, toco qualquer coisa e a Luz vem ter comigo, e acaba por ficar a tocar e a treinar as suas pequenas melodiasJ
  • Começo a cantar/trautear algumas melodias que sei que ela sabe tocar
  • Conversamos sobre os testes e o que estes significam para nós enquanto pais conscientes, e o que significam para a escola de música
  • Mostrámos curiosidade sobre o significado dos testes para a Luz

Reflexão transgeracional

A Luz tem uma relação saudável com o piano. É um prazer ouvi-la tocar e dar os primeiros passos numa “relação” que pode vir a proporcionar-lhe muitos momentos de prazer. Aliás, já lhe proporciona momentos de prazer. Notamo-lo pelo entusiasmo com que toca para nós querendo mostrar-nos as suas novas descobertas.

Neste processo de aceitação, potenciado pela atitude “mente de principiante”, a minha filha Luz permitiu-me uma aproximação ao piano, que há 20 anos não tocava.

Até temos feito umas experiências a “4 mãos” que têm sido momentos muito agradáveis.

Os “testes”, que para mim foram um grande problema no meu percurso musical, para ela não representam problema algum até agora.

A Luz é uma criança que tem necessidade de reconhecimento, pelo que o nosso reconhecimento do seu esforço no estudo do piano e do “muito bom” que teve no seu primeiro teste foi importante.

Percebi que nós, pais e mães conscientes, numa tentativa de fazer diferente dos nossos pais, podemos cair no erro de fazer exactamente como eles nos fizeram.

Ou seja, se eu optasse por desvalorizar totalmente o teste e não reconhecesse   os seus resultados “muito bons”, estaria a fazer exactamente como o meu pai me fez: não reconheceu o meu esforço e desvalorizou os meus resultados. Este equilíbrio, ou “consciência” é de extrema importância.

Ser mãe/pai consciente é estar atento, momento a momento, às necessidades dos filhos e eu reconheço-me por ter conseguido estar atenta a esta necessidade de reconhecimento da Luz. “Reconheço-me por reconhecerJ”. Reconheço também que muitas vezes não sei reconhecer as necessidades dos que me rodeiam e volto á prática do não-julgamento e aceitação.

Capítulo III

“O Afonso curou-me”


O meu filho Afonso, 5 anos, anda na escola de Música uma vez por semana. É uma aula que parece ser divertida pois as crianças cantam e dançam. Considero a professora uma pessoa simpática, disponível e acessível.

Desde o início do ano lectivo que o Afonso se mostra pouco motivado para a aula de música. Ás vezes entra na sala sem protestar e parece ir satisfeito, outras vezes diz que não quer ir. Nesses dias recusa-se a entrar na sala. Nas últimas 3 aulas, o Afonso quis faltar e voltou comigo para casa.

Intenções

  • Ter uma atitude com o Afonso diferente da atitude que o meu pai teve comigo:
  • Promover e motivar o contacto com a música
  • Encarar o estudo de um instrumento como um prazer e não como uma obrigação
  • Aceitação da sua escolha em caso de desistência

Estratégias utilizadas

  • Diálogo com a professora no sentido de perceber o que se passava
  • Diálogos vários com o Afonso no sentido de compreender/detectar qual a sua necessidade
  • Diálogo com o meu marido para definirmos o que vamos fazer
  • Diálogo “interno” para aceitar uma eventual desistência (consciência dos meus “triggers”. Consciência de que “o passado está vivo no presente” e que estou a passar por um processo de aceitação)

– Afonso, eu e o pai achamos que tu devias sair da Escola de Música. Nas últimas 3 aulas não te apeteceu ir.

– Sim eu não gosto.

– Pois filho. Não gostas. Eu sei, tu já nos tinhas dito. Nós tínhamos tanta vontade que tu aprendesses música, que esperámos até agora para falar contigo sobre isso.

– Mas eu já disse que não gostava…

– Por isso achamos que o dinheiro que estamos a gastar nestas aulas, podemos gastá-lo noutra coisa que tu gostes mais de fazer.

– Sim eu quero dança, ou ginástica!!

– Sim? Já me tinhas falado nisso. Vais experimentar primeiro para ver se gostas.

– Está bem. Eu gosto!

Actualmente, o Afonso frequenta aulas de dança criativa. Está muito motivado e nunca quer perder uma aula.

Eu estou curada. Estou tranquila e aceito totalmente as escolhas que fiz no passado e no presente. Sinto-me mais conectada comigo e consequentemente com todos os que mais amo. Os meus pais, o meu marido e os meus filhos. Os meus filhos sentem que são aceites pelo que são. Estamos conectados. Cantamos juntos.

“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.”    Fernando Teixeira de Andrade

Ana Camarinha

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