Academia de Parentalidade Consciente

Para a mãe

de Oriana Oliveira

Hoje, quando me encontrei com a minha mãe, senti-a triste. Ela tinha acabado de deixar a minha avó, depois de um passeio de final de tarde, na residência sénior, onde, atualmente, vive e é cuidada. Perante o semblante carregado e uma postura cabisbaixa, senti que algo se passava.

– Então mãe, está tudo bem?

– Oh… Nem por isso.

– Que se passa?

– Fui lanchar com a tua avó, depois fomos passear e, entretanto, fui levá-la ao lar. Quando já lá estávamos, ela começa a chorar e a perguntar se a ia deixar ali. Nem sabia o que havia de responder… Acabei por dizer-lhe que, agora a casa dela era lá. Que os filhos vão lá todos os dias para estar com ela… E, inesperadamente, ela pergunta-me: “E a minha mãe? Ela não sabe que eu estou aqui… Ela vai ficar preocupada comigo. Quem a avisa que eu estou aqui?” Fiquei sem palavras… O que havia de lhe dizer? Abracei-a e passei-lhe a mão nos cabelos… e ela murmurou-me: “Pareces tanto a minha mãe…”

Enquanto me conta isto, a voz da minha mãe embaraça-se e os olhos enchem-se de lágrimas.

A minha avó sofre de demência há algum tempo. É difícil ver alguém que, outrora, esbanjava vida e energia, esquecer-se de quem é…

A minha mãe continuou.

“Sabes, esta situação lembrou-me uma das últimas conversas que tive com a minha avó, antes de ela deixar de falar. Fui a casa dela, para ver se ela precisava de alguma coisa e, ao entrar, dei-lhe um beijinho e disse: ”Olá avó!” Ela olhou para mim, muito surpreendida e questionou-me: “Avó?! Mas tu não és a minha mãe?” Eu respondi-lhe que não, que era neta. “Neta? Eu já tenho netos? Eu nem sabia que tinha filhos…” Eu abracei a minha avó e também lhe passei a mão no cabelo, e ela deixou-se estar ali, no meu abraço. E, de repente, ela perguntou-me: “Tens a certeza que não és a minha mãe? Pareces mesmo a minha mãe…”

Ouvi o relato emocionado da minha mãe, em relação à sua mãe e à sua avó, com alguma angústia. Só conseguia pensar que ter uma mãe é algo inestimável.

Porque mãe é quem está presente, mesmo quando se ausenta.

Porque mãe é quem diz a verdade, mesmo quando era mais fácil mentir.

Porque mãe é quem ri connosco, mesmo quando se esconde para se rir de nós.

Porque mãe é quem chora connosco, mesmo quando chora sozinha.

Porque mãe é quem tem paciência, mesmo que precise de dar um grito.

Porque mãe é quem grita, mesmo quando só quer é silêncio.

Porque mãe é quem sabe de cor cada vinco da nossa orelha, mesmo quando não se lembra da última vez que tomou banho.

Porque mãe é quem acorda a meio da noite, só porque a nossa cama rangeu.

Porque mãe é quem dá o que tem, mesmo quando não tem mais para dar.

Porque mãe é quem nos esmaga num abraço, porque não consegue controlar a força do seu amor.

Porque mãe é quem nos beija, mesmo que seja apenas a ponta dos cabelos, para não nos arreliar.

Porque mãe é quem nos chama pelos dois nomes próprios quando se chateia, e quem inventa o segundo nome quando não o temos.

Porque mãe é quem cuida e quem precisa de ser cuidada.

Porque mãe é perfeição, mesmo quando se sente imperfeita.

Porque mãe é tudo, mesmo quando se sente nada.

E, porque… a mãe está sempre no nosso coração, na nossa vida… mesmo quando já não sabemos quem somos…

Tu, mãe, és tudo.

Feliz Dia da Mãe.