O Bê-Á-Bá e a Magia da Parentalidade Consciente

de Cátia Violante

 “Ninguém nos dá a fórmula mágica quando nos tornamos pais. Nem existe um manual que nos ensine a lidar com os desafios diários como as birras, o sono e as refeições.

Estaremos a agir bem? O que é normal em cada idade? Devemos elogiar ou castigar? Quando dizer não? E como compensar o pouco tempo que partilhamos com os nossos filhos?

O Mindfulness aplicado à parentalidade ajuda-nos a pensar a educação de forma consciente e plena.”

Foi isto que eu li na sinopse do Livro “Educar com Mindfulness” da Mikaela Oven, em 2016, quando comprei o Livro, e posso-vos garantir que Magia acontece…

Foi longo este percurso de mãe que não sabia o que fazer, como agir, como ajudar o seu filho, como trabalhar com a creche e a educadora que estava “cansada”, e não sabia mais o que fazer com o meu filho. Uma mãe que se sentia sem recursos, sem respostas, sem soluções. Uma mãe insegura, sentindo-se sem voz, desconectada, acima de tudo, que achava que já tinha tentado tudo… até ao dia de hoje, onde olho para os meus filhos e sinto paz, uma paz imensa no meu coração pela mãe que sou.

Os desafios continuam e são diários, mas o mistério foi desvendado e hoje sei ler essa linguagem secreta da parentalidade porque sei que todas as respostas para todos os desafios estão dentro de mim e na minha relação com os meus filhos. Uma paz que a Parentalidade Consciente me trouxe. O Mundo Mágico da Parentalidade Consciente, como gosto de dizer.

Tirei cursos, certificações e continuo a minha jornada de desenvolvimento pessoal. Leio livros, pesquiso, pois este é um caminho sem retorno. Mas acima de tudo VIVO com os meus filhos. E é nessa vivência diária que cresço, me dispo, me descubro. É de mãos dadas com os meus filhos que resgato a criança que fui e me reconheço nas brumas da minha própria infância. Sempre consciente de que é desaprendendo, que aprendo, muito mais do que ensino. A Parentalidade para mim resume-se a isso: numa oportunidade única de descobrir e ser quem Eu Sou.

É esta a Magia de ser uma Mãe Intencionalmente Consciente. Imperfeita na sua Imperfeição.

Partilho aqui o que aprendi, o que se tornou parte do meu Ser como Mãe, o que já está no meu inconsciente competente, e me guia, com Alegria e Assombro, todos os dias da minha Vida.

O Bê-á-Bá

*A Parentalidade Consciente é uma Filosofia de Vida que eu uso em todas as relações da minha vida, e não apenas com os meus filhos. Uso comigo, uso com o companheiro, uso com todos os adultos com quem me cruzo e que cruzam a vida dos meus filhos.

*Tenho que começar por mim primeiro. Esta é a base da minha Parentalidade. Tenho que cuidar de mim se quero cuidar dos meus filhos. O melhor presente que posso dar aos meus filhos é cuidar de mim, tratar de mim, assumir a responsabilidade em relação a mim. Se eu não estiver bem, como posso ser uma boa mãe para os meus filhos? Quais os meus gatilhos? O quê que o comportamento do meu filho me está a dizer sobre mim? De que forma eu, o meu estado, está a influenciar o comportamento do meu filho? Qual a minha responsabilidade em tudo o que está a acontecer? Descobrir que se eu mudar, tudo muda. Posso observar. Posso meditar. Entrar em contacto com a minha quietude Interior. Quando me sinto melhor, sou uma mãe melhor.

“Ás vezes tenho que em relembrar que ao cuidar de mim também cuidos dos meus filhos”.

*Tenho as minhas Intenções bem definidas e trabalho-as diariamente. Elas são o ponto de partida de uma Parentalidade Consciente. São um farol que me guia nas tempestades da Vida. Volto sempre a elas quando tenho duvidas. Pergunto-me sempre em momentos desafiantes: O que é mais importante Agora? O que faria o Verdadeiro Amor? Qual a minha Intenção? Fecho os olhos, Respiro e ajo. Ajo sempre melhor e sinto-me sempre melhor depois de me alinhar com as minhas Intenção.

“As Intenções postas em palavras têm um poder mágico.”

*Saber que sou Perfeita na minha imperfeição. E aceitar-me de forma autêntica.

“Lembra-te: Consciente, não Perfeito. Aliás, Imperfeito e Consciente. Perfeito.”

*As 7 Atitude Mindfulness são a minha mochila: Não Julgamento (observar o que é, ser testemunha da Vida, sem filtros), Paciência (tudo tem um tempo certo para acontecer, estar em paz com o fluir da Vida), Mente de Principiante (olhar para tudo como se fosse a primeira vez, porque o é), Confiança (confiar na vida, na minha intuição), Não-Esforço (emocionalmente largar a luta, estar no momento presente), Aceitação (estar em paz com o que é), Deixar ir. (uffff… acontece naturalmente). O Mindfulness é a base da Parentalidade Consciente.

“Ama-me quando eu menos mereço. É aí que eu mais preciso.”

*Auto questionar-me sempre. Porquê que eu faço o que faço? Está certo? De onde vem a minha forma de agir? Fui ensinada assim? Como fizeram comigo quando eu era criança? Que crenças estão por detrás disto? São minhas as crenças? São herdadas da minha família? Da sociedade? Faz sentido para mim? Entrar num processo de autoconhecimento interior e procurar ser autêntica e congruente nos meus pensamentos, emoções e comportamentos. Aceitar as minhas emoções. Dar espaço para o que se manifesta. Alinhamento interno. Assumir responsabilidade total. Sempre. Pelos nossos actos.

“Praticar Parentalidade Consciente é mais sobre desaprender do que aprender.”

*A Congruência é um alinhamento entre o que eu penso, sinto e faço. Existe uma correspondência entre quem sou, quem quero ser e quem estou a ser. Tenho um comportamento e uma comunicação alinhados com o meu interior. Quando sou congruente a minha comunicação é verdadeira, despida de intenções escondidas.

*Pedir desculpa ponto final.

“Haverá sempre momentos em que os maiores recursos são a desculpa e um abraço”.

*Viver e transmitir os Valores da Parentalidade Consciente: Igual Valor (os meus filhos têm o mesmo direito que eu a serem respeitados em todas as suas emoções, opiniões, desejos e necessidades) / Integridade (limites e necessidades físicas e psicológicas. É a soma das emoções, valores e pensamentos. É respeitando a Integridade que fortaleço a Autoestima) / Autenticidade (permite um contacto próximo entre adulto e criança e é a expressão do que nos vai no coração. É o oposto da perfeição.) / Responsabilidade (pessoal. É a que cada um tem pela sua vida, emoções, acções e suas escolhas. Dar aos meus filhos a sua responsabilidade e não fazer por eles. Assumir a minha também).

*As Crianças são como Tu e Eu. Saber, sentir e viver isto verdadeiramente, muda tudo.

“Se aceitares que o teu filho é perfeito na sua imperfeição, exactamente como tu, tudo muda.”

*O Comportamento desafiante é sinónimo de falta de conexão. O “mau-comportamento” é sintoma de um sistema que funciona mal. O comportamento dos meus filhos é um eco do meu comportamento e da minha atitude. Eu não sou o meu comportamento. O meu filho não é o seu comportamento. Comportamento é comunicação. O comportamento nunca é o problema, é sempre a solução. O importante nestes momentos é Observar: O que está a acontecer com o meu filho neste momento? Usar a Mente e Lupa de Detective. A Curiosidade. Ser um Detective Mindfull. Colaboração. Relação. Conexão. Conectar-me em primeiro lugar. Ouvir e reconhecer emoções. Conhecer as Necessidades Emocionais. Modelo Laser de Pedro Vieira. O comportamento existe para satisfazer uma necessidade. Quando satisfaço essa necessidade o comportamento deixa de existir. Responder á pergunta “porquê?” e o “como?” deixa de fazer sentido.

“Quando tens uma flor que não floresce, o que fazes? Procuras melhorar o ambiente ou tentas mudar a flor?”

*Aprendi que numa relação entre crianças e adultos, violência é sempre responsabilidade do adulto. Também quando é a criança a bater.

*A solução está sempre na Relação. Nas Relações Autênticas. Parentalidade Consciente é sobre relações.

“Crises, conflitos, desentendimentos e lágrimas fazem todos parte de uma infância feliz”.

*As crianças são aquilo que experienciam. Devo liderar pelo exemplo. Aquilo que eu quero que os meus filhos sejam, tenho que ser eu primeiro.

*Aprendi sobre a Coragem, a Vulnerabilidade, a Empatia, a Compaixão e Auto compaixão. Sabedoria do Coração (Heartfulness). Aprendi sobre Limites Gerais e Limites Pessoais. A dizer “Nãos” autênticos que vêm do coração. Respiração. Abertura. Rendição. Criatividade. Flexibilidade. Estado neutro.

*Aprendi sobre a Presença Consciente. E que a qualidade da nossa Presença com os nossos filhos está ligada ao nível de Conexão que temos com eles. Quão presente estás com os teus filhos?

*Passei a ver a Auto-Estima como o Sistema Imunitário Social, cujos principais focos são: O Amor Incondicional / Aceitação / Presença / Reconhecimento / Confiança. Ela é a Chave para a Felicidade. Tudo começa pela Autoestima. E todos nascemos com uma semente de Autoestima. Com uma Autoestima saudável relaciona-me bem com tudo o que acontece na minha vida. Gosto de mim.

*Aprendi que os castigos não funcionam. São um quick-fix. Separam o comportamento do momento e tratam unicamente do sintoma, nunca da causa. Perde-se com eles a grande oportunidade de conexão. Todos os tipos de métodos são manipulações. A única estratégia universal que existe é ouvir e ver. Utilizar os sentidos. As manipulações não têm lugar em relações próximas. Isolar (time-out) uma criança é um acto psicologicamente violento e contra a Convenção dos Direitos das Crianças das Nações Unidas. (Sabias disso?…)

*Aprendi que as Recompensas não afectam a motivação interna. As Recompensas externas diminuem inclusive a motivação interna. Castigos, prémios e recompensas são sinónimos de Amor Condicional. Transmitem a mensagem: “Gosto de ti se te portares bem.”

*Não existe nada que funciona sempre, em todos os contextos. Os conflitos fazem parte do quotidiano duma família.

“Se quiseres uma família feliz é necessário receberes todos os comportamentos e todas as emoções que não associas á felicidade, de braços abertos.”

*Aprendi que a Comunicação de limites deve ser clara, autêntica e respeitadora. Eu quero / Eu não quero / Isto é importante para mim. As crianças não testam limites. Procuram conexão. As crianças respeitam, não os limites, mas as pessoas que os comunicam.

“Como comunicamos dignamente com os nossos filhos? Apenas através da nossa Presença, da nossa Presença Plena, comprometida e sintonizada.”

*Aprendi a Comunicar de forma mais Consciente (Respiro. Oiço para dentro. Explico). Usando a Linguagem do Eu. Atenta á Linguagem verbal, não-verbal e para-verbal. Aprendendo sobre a Comunicação não violenta. E a importância da Escuta Activa.

“Fala com os teus filhos como se eles fossem os seres mais sábios, mais gentis, mais bonitos e mágicos á face da Terra, pois naquilo que eles acreditam eles se irão tornar.”

*Aprendi sobre o Poder da Definição. A mudança do prisma. “A forma como falamos com os nossos filhos torna-se a sua voz interior”. A importância da construção de um auto-conceito saudável e positivo.

“Uma criança desafiante ou uma criança com desafios? Uma criança problemática ou uma criança com problemas? Uma criança difícil ou uma criança com dificuldades? A forma como descrevemos o que observamos faz toda a diferença quando procuramos soluções.”

A Vida é Infinitamente Sábia.

É “Difácil”.

E Está tudo Bem.

O que desaprendi com a Parentalidade Consciente. O que deixei Ir.

O Controlo. / O Piloto automático. / O Desejo de Perfeição. / O Pensador compulsivo. / O Stress e a Ansiedade. / O Julgamento, o Apego e a Resistência. / Os Rótulos. / As Expectativas. / A Reactividade. / A Culpa. / A Incongruência. / As regras. / As Birras. / Os Elogios. / A Preocupação. / O Passado e o Futuro. / As Criticas, as Repreensões, os Castigos. / Os Outros.

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“Parentalidade é sobre elevar e comemorar os filhos que tu tens e não os filhos que pensaste que irias ter. É sobre compreender os teus filhos exactamente como são. E, se tiveres sorte, eles podem vir a ser os teus professores que te transformam na pessoa que tu deverias ser.”

A Parentalidade Consciente é uma prática diária e vitalícia de autodescoberta, em que somos testemunhas atentas da nossa inconsciência e do nosso próprio comportamento, no reflexo que os nossos filhos nos devolvem, para que assim a possamos integrar.

E é este testemunhar da nossa inconsciência que faz de nós Pais mais Conscientes.

Lembra-te: “As crianças são perfeitas como são.”

Aos meus filhos, sempre, a minha eterna Gratidão, por me terem escolhido para crescer com eles nesta viagem de AMOR.

Á Mia, o meu Reconhecimento e Amor, por ter transformado o percurso das nossas vidas.

A mim, pela Coragem de Acreditar que posso mudar o mundo. O MEU MUNDO!