Academia de Parentalidade Consciente

Nunca é tarde de mais!

de Fátima Gouveia e Silva

Quando tomei contacto com a Parentalidade Consciente, o meu primeiro pensamento foi sem dúvida “Quem me dera ter conhecido a Parentalidade Consciente há 18 anos atrás…”.

No entanto, ao entrar neste mundo percebi que nunca é tarde de mais. Serei sempre mãe e tudo o que a Parentalidade Consciente me ensina me ajuda a promover melhores relações com as minhas filhas tenham que idade tiverem, em família, … e com os outros. São valores para a vida e para sempre.

Tenho 2 filhas, uma com 19 e outra com 13 e hoje quero partilhar convosco o meu percurso e como trouxe a Parentalidade Consciente para dentro de casa.

Fui sempre dedicada à família e o que mais marcou a minha vida foi sem dúvida ser mãe. Ser mãe é a maior aventura do mundo e essa tenho-a vivido intensamente. Vi as minhas filhas crescerem com orgulho. A minha maior realização passa principalmente por ter acompanhado e acompanhar as minhas filhas em vários momentos importantes e menos importantes na vida delas.

Como qualquer mãe sempre tive duvidas, não me identificava com algumas formas de educação mais “tradicional” mas nem sempre terei sido realmente autentica ou escutado a minha intuição. Cedi por vezes à pressão da família, da escola, dos outros, pois na verdade sentia-me um pouco só na forma de pensar…

Quando a minha filha mais velha era pequena não ouvia falar em parentalidade consciente, os livros estavam cheios de teorias sobre regras de comportamento e olhando agora para trás, era mesmo evidente o foco exagerado no comportamento das crianças, no ser bem-educado, bem-comportado e obediente.

Na minha perspetiva, queria que as minhas filhas se comportassem de uma forma assertiva (não necessariamente obediente), que tivessem voz e se soubessem exprimir, que tivessem esse espaço para serem ouvidas e que dessem a sua opinião não aceitando tudo o que o adulto dizia só por ser adulto.

Sempre quis promover a cultura da colaboração: fazem porque gostam de colaborar não porque estou a “mandar”. Fazem porque somos uma família e todos nos ajudamos.

Sempre tentei ouvir o que tinham para dizer e sempre tentei explicar-lhes os porquês. Confesso que me sentia frustrada quando não conseguia “passar” a mensagem, mas o que percebo agora era a dificuldade que tinha em definir estratégias e o pensamento demasiado lógico do “como fazer”.

As minhas intenções enquanto mãe passavam muito por desenvolver nas minhas filhas, autonomia, espírito crítico, vontade de aprender e trabalhar a motivação e auto estima.

Conhecer a Parentalidade consciente trouxe-me uma grande paz interior. Perceber que não há certos nem errados, mas há um caminho (que não precisa de ser desgastante) que nos permite uma maior consciência das escolhas que fazemos e do impacto que isso tem nos nossos filhos. Perceber que o que interessa é mesmo a qualidade da relação pois com uma relação genuína, autêntica e profunda as soluções aparecem; perceber que são as nossas intenções que nos guiam e em função dessas posso validar a minha forma de agir; perceber que tenho sempre escolhas, tudo depende da relação que quero ter comigo e com elas.

Quando iniciei o meu trabalho para a certificação, lancei mãos à obra e implementei algumas mudanças/melhorias na dinâmica familiar.

Ao analisar como observadora o ambiente familiar apercebi-me das principais questões que necessitavam ser trabalhadas:

  • Falta de colaboração nas atividades da casa;
  • Falta de momentos de conexão e partilha entre os 4;

Quando me propus a este desafio de olhar para “dentro de casa” à luz desta abordagem mais consciente a minha intenção era:

  • Promover uma maior conexão entre todos respeitando o espaço de cada um:

Criar espaços e tempos para estar em conjunto sem interferir nem invadir o espaço de cada um;

  • Promover maior partilha de experiencias:

Estarmos todos conscientes das conquistas, desafios e desejos de cada um e podermos manifestar o nosso apoio e presença para além de celebramos em conjunto;

  • Compreender as necessidades uns dos outros de forma a adequarmos a nossa comunicação:

Comunicar de forma mais assertiva, respeitando o “mapa mundo” de cada um.

Percebi que havia alguma falta de comunicação entre todos, fruto também das idades das miúdas, e da necessidade de cada um do seu próprio espaço.

Os momentos de maior partilha eram a hora de jantar quando nos reuníamos e cada um contava as suas “peripécias”.  Era um momento divertido e agradável, mas curto e que era necessário promover noutras circunstâncias.

Na análise daquilo que me parecia ser importante trabalhar considerei que era prioritário melhorar a nossa comunicação. Para melhorar a comunicação entre todos era preciso compreender os padrões de pensamentos de cada um e entender as suas necessidades. Nada melhor que expor o modelo LASEr e entender a diversidade de “energias da família” e os conflitos ou colaborações que daqui podem resultar.

Para promover a colaboração de todos pensei na definição conjunta de estratégias, assumindo compromissos em família, e não apenas regras criadas pela mãe ou pelo pai, no entendimento de que todos contribuímos para o bem-estar de todos, e consequentemente, para o nosso próprio bem-estar.

Era assim necessário e interessante criar espaços de partilha e opinião sobre “regras” que podemos definir em conjunto e o que se pode melhorar em família dando voz a todos para que sintam à vontade em expor as suas preocupações, sentimentos, receios, necessidades, etc

  • Definimos reuniões mensais para discussão de temas importantes: atividades em conjunto, distribuição de tarefas, questões escolares, planeamento de férias e principalmente para estabelecermos um momento de conexão e partilha entre todos.

Achei que seria importante identificarmos as energias predominantes em cada um de nós e compreender as necessidades psicológicas por trás desses comportamentos. As miúdas acharam muita piada ao modelo e divertimo-nos a fazer exercícios onde identificávamos as energias predominantes das pessoas em determinadas situações.

Entendemos que perceber as necessidades de cada um nos faz ser mais tolerantes e empáticos e até adequar a nossa linguagem e forma de comunicar.

Entendemos que devemos, em cada situação, tentar responder às necessidades de todos os envolvidos e não só das nossas, pessoais.

  • Definimos, com a colaboração de todos, algumas regras para a utilização de espaços comuns, que pareciam andar esquecidas e a responsabilização de cada um pelo seu próprio espaço
  • Criamos o dia do “Destralhe” onde cada um será responsável por identificar o que deve “deixar ir” e assim manter uma certa organização na casa.

Sei que continuarei a ter dúvidas, que os anos da adolescência são desafiantes, mas sinto-me confiante que tenho ferramentas para continuar este percurso e dotar as minhas filhas, de capacidades e habilidades importantes para a sua relação consigo mesma e com os outros.

Às minhas filhas devo o meu maior crescimento enquanto pessoa.

Os filhos potenciam mesmo o nosso crescimento se quisermos aproveitar essa oportunidade!

One comment

  1. A convivência entre uma família é sempre um aprendizado. Se forem alicerçadas em valores morais não existe uma regra a ser seguida. Os tempos mudam, a educação muda, mas os valores devem ser preservados e o respeito acima de tudo. Todos devem falar de seus sentimentos e colaborar na organização da casa. ssim tudo caminhará em paz.

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