Academia de Parentalidade Consciente

Praticar uma Parentalidade Consciente com todas as pessoas

de Diana Pereira

Crescer é desafiante. Amadurecer é desafiante e à medida que crescemos e amadurecemos começamos a reparar mais no outro, nos sentimentos do outro, nas emoções do outro, nas vontades do outro, nos desejos do outro, nos comportamentos do outro, seja quem for o outro.

Dou muitas vezes comigo a ter certos comportamentos que me levam a pensar “se eu fosse uma criança como é que reagiam comigo agora?” ou “se fosse o meu filho a ter exactamente este comportamento como é que eu reagia?”

Às vezes, no inverno, demoro mais tempo no banho para me aquecer e porque gosto da sensação da água a correr pelo meu corpo.

Nessas alturas eu penso: “Se eu fosse uma criança, será que me contavam a história da falta de água ou do dinheiro que não nasce das árvores?

“Será que eu vou conseguir compreender e controlar o impulso de mandar nos outros quando for o meu filho a demorar assim no banho?

Há dias em que me sinto carente, sem nenhum motivo aparente, simplesmente estou mais necessitada de carinho e compreensão. Costumo verbalizar com as pessoas essa minha necessidade para desculpar alguns dos meus melindres, mas eu sou adulta e já sei lidar relativamente bem com estas emoções e ter consciência delas e até onde eu quero que elas me afectem.

Nestas alturas eu penso “Se eu fosse uma criança, que não soubesse explicar o que estou a sentir, nem controlar estas emoções, será que os adultos à minha volta iam ter este cuidado comigo e me iam acarinhar e tolerar os meus melindres?

“Será que vou conseguir ter esta percepção quando tiver filhos?”

Há dias em que não me apetece almoçar porque não tenho fome. Não estou doente, a comida é boa, mas eu simplesmente não tenho fome.

Nessas alturas eu penso: “Se eu fosse uma criança, será que os adultos à minha volta me iam obrigar a comer um prato de comida que foram eles que serviram? E ainda a sopa?”

“Será que eu vou conseguir confiar que os meus filhos são capazes de sentir o próprio corpo?”

Às vezes também me porto mal, principalmente se tiver fome ou sono. E posso dizer que não é muito difícil ficar intolerável e sem energia nesses estados. Se gosto de ficar assim? Não, não gosto. Se consigo controlar os meus impulsos? Às vezes. Pelo menos essa é a minha intenção, e está sempre presente.

Nessas alturas eu penso: “Se eu fosse uma criança, será que me iam colocar no banco do castigo durante 26 minutos ou iam perceber que o meu comportamento tinha uma necessidade física por trás e conseguiam ajudar-me?”

“Quando eu for mãe, será que vou conseguir estar atenta às necessidades dos meus filhos e dos comportamentos que advém?”

Há dias em que estou tão cansada que não tenho forças para sequer secar o cabelo e sinto-me super amada se alguém o secar por mim. O inverso também acontece e eu acredito que isso são atitudes de amor.

Nessas alturas eu penso: “Se eu fosse uma criança, será que me secavam o cabelo se eu pedisse? Ou iam dizer que já era grandinha de mais para essas coisas?”

“Será que eu vou ser demasiado exigente com os meus filhos e vou evidenciar as idades deles nestas alturas para lhes mostrar que já são capazes de fazer isto ou aquilo sozinhos com a boa intenção de os tornar autónomos?”

Há dias em que eu não sou organizada nem cumpro com os deveres do lar. Nesses dias o meu melhor é apenas cuidar de mim e não da casa. É que, sinceramente, nem que me oferecessem uma recompensa no fim, eu ia preferir cuidar de mim.

Nessas alturas eu penso: “Se eu fosse uma criança, será que me iam obrigar a arrumar o meu quarto?”

“Será que eu vou fazer isso aos meus filhos?”

Mas nada disto faz mal, eu não pretendo escravizar-me.

Nós não estamos a 100% todos os dias e não faz mal nenhum. Somos humanos, não somos robots! Actualmente transmite-se uma ideia muito penosa de que temos de ser imparáveis, empreendedores, criativos, activos, dinâmicos mas quando nos surgem dias preguiçosos, sem ideias, desorganizados, confusos, carentes vem logo um sentimento de culpa e a crença de que temos de ser o oposto e não, não temos.

Pretendo mostrar aos meus filhos que somos todos humanos, que temos todos dias bons e dias que demoram mais a passar, comportamentos que nos deixam felizes e outros que não conseguimos evitar, frases bem ditas e outras que mereciam o silêncio mas TODOS – adultos e crianças – merecemos o mesmo respeito e o mesmo valor. Quero mostrar-lhes que não sou uma supermãe nem eles uns superfilhos, acredito que isto vai permitir que a nossa relação seja mais verdadeira.

“AAH mas isso tu dizes porque ainda não és mãe, quando fores tu vais ver como são as coisas. É tudo muito bonito mas a realidade é outra.”

Pois, tens razão quando dizes que ainda não sou mãe e não passei por essas dificuldades, no entanto as minhas intenções estão muito bem definidas dentro de mim. E as tuas?

Isto é Parentalidade Consciente. Fazer esta análise sobre mim, sobre o meu íntimo, sobre a minha moral e conseguir pôr-me no lugar do outro, seja qual for a idade, raça, religião, género ou cultura.

Nós podemos e devemos praticar uma Parentalidade Consciente connosco, com os nossos filhos e com os outros. Nós podemos praticar uma Parentalidade Consciente mesmo sem termos filhos.

Artigo originalmente publicado aqui

2 comments

  1. Boa reflexão, Diana!! Parabens pela auto analise e pelo caminho que estás a fazer neste campo!! Vais, certamente, ser uma “super mãe”… muito presente e consciente dos teus atos e acções! Feliz do teu rebento! 1beijinho!!

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