Academia de Parentalidade Consciente

“Mãe, amanhã é dia de praxe!”

de Iolanda Pereira

Nunca uma frase me impressionou tanto, nunca uma simples afirmação me tirou o chão. Acreditem que não era nova para mim, não era a primeira vez que a ouvia, oriunda de uns lábios sedentos de novas experiências, de novos desafios, de novas aventuras. Mas dessa vez foi diferente, acordou temores adormecidos pela simplicidade de uma adolescência bem vivida, responsavelmente vivida.

         Então por que razão soava de forma tão diferente?

Desde Outubro que todas as terças-feiras ouvia “Mãe, amanhã é dia de praxe!” E sempre esta expressão promoveu um companheirismo partilhado com o caçula da casa “o menino”. Cuidadosamente as roupas eram tratadas (sim, porque vinham imundas) e claro, sempre a mesma recomendação: “Não as podes lavar, mãe! ” E, eu cumpria religiosamente a recomendação.

Um dia novos e sombrios sentimentos me encheram o coração (é impressionante o que a informação massiva pode alterar). Por vezes, a nossa parentalidade é colocada em causa quando do exterior surgem ameaças medonhas. Ameaças à nossa autenticidade, ameaças à nossa integridade. O chão foge, as dúvidas catapultam nos nossos pensamentos.

 E todos sabemos a força que os nossos pensamentos podem ter…

Mas é nestas horas que temos que procurar, rebuscar, descobrir no mais profundo do nosso ser a tão esquecida intuição parental. Sim, essa mesma! Ainda se lembra dela? Pois, foi um esforço dantesco mas necessário voltar a acreditar na relação fomentada e alimentada desde sempre com o meu filho.

Não foi fácil acreditem, durante dias todos os noticiários falavam desse ritual académico. Uns a favor, outros contra… e eu balançava de um lado para o outro temerosa que tudo isso beliscasse a confiança fomentada por ambas as partes da relação.

Questionava-me se essa saborosa partilha iria desaparecer, as novidades contadas ao final do dia de praxe, omitidas…

Bem o coração falou (e ainda bem) mais alto, neste caso creio que gritou mesmo.

Aguardei ansiosamente pelas quartas-feiras tardias, pelo cheiro nauseabundo de horas de partidas, brincadeiras, de integração, de novas experiências, e principalmente pela capacidade de um jovem adulto saber os seus limites, quando, por alguma razão, os limites dos outros não existissem.

E as quartas-feiras passaram…