São 08:30h quando chego à Comissão de Proteção de Crianças e Jovens. Sou a primeira a chegar, o que me possibilita parar por uns momentos, olhar a agenda e definir as minhas intenções para aquele período de trabalho.
Por que é tão importante para mim definir as minhas intenções? Porque quando não as defino, observo que surgem mais julgamentos, mais pensamentos críticos, maior resistência…
Hoje vou promover o reencontro entre um pai e filho. Já não se vêem há cerca de 18 meses devido a um conflito parental grave que conduziu a alienação parental.
Traço as seguintes intenções:
– Vou promover o reencontro entre pai e filho;
– Quero ouvir, ver e compreender a visão de todos os intervenientes no processo;
– Quero ajudar os progenitores a ganhar mais consciência da conduta que têm tido até ao momento e das diversas opções que podem tomar para ultrapassar o conflito parental;
– Vou manter a serenidade e a confiança ao longo do processo de acompanhamento desta família.
Antes de receber a família faço três ou quatro respirações profundas, alongo as costas, abro o meu coração! Quero encarar a situação com total abertura.
Não posso promover e proteger os direitos das crianças e dos jovens, sem antes olhar para os seus cuidadores com total abertura e interesse. Quando crio um clima de abertura e confiança, quando olho os progenitores “olhos nos olhos”, quando me entrego à situação por inteiro consigo obter um retorno inexplicável, consigo causar maior impacto nos pais/família, consigo que a mensagem que quero transmitir flua mais facilmente.
Muitos dos pais que chegam até este contexto, apresentam comportamentos “sem amor”, utilizam os gritos, os castigos físicos e psicológicos, as humilhações, o desinteresse e as críticas desconstrutivas na relação com os filhos.
Uma criança que cresce num ambiente dominado por comportamentos sem amor torna-se infeliz e insegura, a semente da autoestima enfraquece e o coração fecha-se.
Observo, com relativa frequência, que os comportamentos sem amor promovidos por estes pais são heranças da sua infância. Estes pais também tiveram infâncias infelizes, marcadas pelo desamor e pelo desencontro. Estes pais precisam muitas vezes eles próprios de ser cuidados, de ser pegados ao colo e embalados.
Lanço-lhes a pergunta: “Que tipo de mãe/pai quer ser?” Ultrapassada a surpresa da questão colocada, a maioria responde “Quero ser um bom pai, quero ser um pai amigo… “.
No entanto, não sabem como o ser… não têm competências para fazer melhor… não têm consciência que existem outros caminhos que podem percorrer… não têm consciência que podem ser/fazer diferente…
Chegar até eles é, para mim, uma bênção! Agradeço todos os dias por lançar sementes na sua consciência. Algumas dão fruto, muito fruto; outras podem demorar a germinar…
Para que estas sementes deem fruto, pratico o igual valor (aquela mãe/pai tem tanto valor quanto eu; aquela mãe/pai merece o meu respeito tal como eu mereço o respeito dela(e), aquela mãe/pai tem direito a expressar as suas opiniões, as suas ideias, as suas vivências mesmo que eu não concorde com elas…).
Por isso, lanço aqui uma palavra de esperança e simultaneamente de desafio a todos os que trabalham nesta área. A postura dos técnicos pode fazer a diferença! Acredito, portanto, que a parentalidade consciente pode ser praticada em todos os contextos, inclusivamente nas Comissões de Proteção de Crianças e Jovens.
da facilitadora
Mais informações sobre a Certificação de Facilitador de Parentalidade Consciente,
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Gostei, fez-me sentido, partilho da ideia. Grata pela objetividade e clareza da escrita.
Boa Vânia!