Ser mãe. Objectivo de vida, de preenchimento, de Amor. Com a chegada do R. há 4 anos, tudo mudou, como muda a vida de qualquer mãe.
A segurança e o Amor existiram, mas a conexão entre mãe e filho estavam muito longe do que alguma vez tinha desejado. O R. começou a crescer, a testar os limites com grande resiliência e eu esqueci-me da minha intenção. Não sei sequer se a cheguei a definir na altura certa. E senti-me novamente perdida, enquanto mãe e enquanto ser humano. Gritei, pus de castigo, bati, chorei e fiz chorar. Senti-me instável e criei instabilidade. Fui percebendo, com o passar dos dias e dos meses, que não estava a ser a mãe que tinha sonhado – a mãe que ouve, compreende, ama e liberta.
Na minha forma de amar havia muito pouco de igualdade, de negociação e, acima de tudo, de aceitação. Estava diariamente a julgar o meu filho, a moldá-lo da forma que eu achava que era a mais correcta ele ser.
Culpei-me muitas vezes por não ser uma boa mãe, por não ser melhor para o meu filho e julguei-me muitas vezes por não o sentir feliz. Os dias eram passados com muitas regras, repreensões, algumas discussões e, no limite, castigos e palmadas.
Comecei a pesquisar formas de encontrar o meu caminho. Foi quando encontrei o curso de facilitadores de Parentalidade Consciente e pensei que seria uma óptima oportunidade de mudar o comportamento do R. E inscrevi-me.
Lembro-me da minha intenção quando me sentei pela primeira vez na cadeira da sala de formação: melhorar o comportamento do R. para sermos mais felizes.
No final da manhã tudo tinha mudado. Iniciei a verdadeira viagem: ao interior de mim, ao que fui, ao que sou e ao que quero ser. E a minha intenção mudou. De imediato.
Na folha de intenções escrevi: Melhorar a conexão com o meu filho; Ter mais auto-controlo na relação com o meu filho.
O objectivo passou a ser mudar-me enquanto mãe, enquanto pessoa, igualar-me ao ser que ajudei a colocar no Mundo e que tanto tem para me dar e ensinar. Dar-lhe todo o meu amor, mas também o meu tempo, o meu respeito e a minha aceitação.
E comuniquei-lhe isso: a partir daquele dia não existiriam mais gritos, castigos ou palmadas. Não haveria mais ninguém a dar ordens. Não haveria ninguém superior a ninguém. Seríamos uma família em que todos têm direito à sua expressão, ao seu espaço e à sua liberdade, respeitando os limites do outro. O Amor, sempre presente até então, passaria a ser Incondicional.
Retenho na minha memória uma imagem que jamais esquecerei: dois olhinhos azuis, lindos, a brilhar e a sorrir, que me disseram: “Acho boa ideia mamã, eu vou ajudar-te.” Simples. Como é o verdadeiro Amor. Sem condições.
Não tem sido sempre fácil, existem momentos mais tensos, de maior cansaço, mas fazem parte da aprendizagem e aceito-os tal como aceito os momentos calmos e tranquilos.
Nos dias mais desafiantes, respiro fundo, dou mais atenção, converso mais, abraço mais e, com tempo e paciência, tudo se resolve.
Aprendemos em conjunto a combinar o que queremos ou não, o que gostamos ou não e a questionar o outro sobre o seus limites, sentimentos e emoções. Comunicamos abertamente, com respeito e igual valor.
Percebo hoje, sem culpa ou julgamento, que nem sempre fiz o que devia ou como devia. Fiz como sabia na altura. Aprendi que devemos parar antes de reagir. Por isso, paro, alinho-me com a minha intenção e sigo em frente.
Já errei? Sim. Já fiz e disse algumas coisas que não devia? Sim.
Mas agora tenho consciência disso e penso sobre isso e falamos sobre isso. E está tudo bem. Aceitamos as falhas tão bem como as vitórias para aprendermos e seguirmos em frente sem mágoa ou culpa.
A vida agora tem mais alegria, mais gargalhadas, maior liberdade pessoal, maior respeito pelas lágrimas, mais conversas sobre assuntos importantes, maior tolerância para com o outro, maior conexão. A casa tem dias em que está mais suja (e é tão bom!).
Estarmos conscientes faz toda a diferença. Sabermos quem somos e a nossa intenção enquanto pais, ouvirmos o nosso coração e não o que os outros dizem, conhecermos os nosso filhos, respeitá-los e aceitá-los, tal como queremos ser respeitados e aceites.
Tenho muito a aprender com este coração puro, doce, isento de maldade, de julgamento, que me aceita tal como sou, com Amor Incondicional.
Focarmo-nos no que realmente importa, no aqui, no agora, no que realmente pode fazer a diferença, deixando ir o que não nos serve ajuda-nos diariamente a sermos mais felizes.
Apenas me permito aprender com quem, melhor do que ninguém, nos pode verdadeiramente ensinar o verdadeiro significado do Amor: os nossos filhos.
Ana Rita Núncio