Academia de Parentalidade Consciente

Primeiro estranha-se…

Quando “isto” da Parentalidade Consciente se começa a entranhar, poderá ser preocupante? Foi a pergunta que me fiz.

Começa a parecer-nos tão simples que nos sai naturalmente. E é tão bom!

Era uma vez uma mulher, mãe duma menina de 3 anos e um marido que trabalha por turnos e, segundo ela, com limites muito bem definidos.

Contou-me que a menina tinha uma casinha de brincar e como a casinha era grande não cabia mais nada no quarto. Na sala tinha um cavalete de pintar que adorava, mas o pai não queria brinquedos na sala. Tinham que deitar fora a casinha ou o cavalete, mas será que a menina não iria chorar? Será que a menina não iria sofrer muito?

Contou-me também que a menina dormia com eles, mas o pai estava cansado disso e queriam que ela dormisse no seu quarto.

O problema desta mãe (e deste pai) era poder tomar decisões erradas que fizessem sofrer a criança.

…E a Parentalidade Consciente começa a entranhar-se em mim e a refletir-se nas conversas sobre crianças.

Disse-lhe que era mãe de 3 crianças, que lá em casa também não gostava muito de brinquedos na sala e que por isso no final do dia lhes pedia que arrumassem tudo no quarto de brincar. E que nesse caso da casinha, o que faria era explicar à menina o que se estava a passar, para que ela decidisse se preferia ter a casinha ou o cavalete no quarto, uma vez que na sala não podia ter brinquedos. Confiar que ela escolheria o que mais gostava e que assim não haveria lugar a “sofrimentos” de maior.

Quanto ao dormir, o conselho foi semelhante, que explicassem à criança os limites dos pais e que a acompanhassem nesse processo de mudança. Que podia ser muito fácil ou que talvez precisasse de alguma (muita) atenção ao deitar para não se sentir desacompanhada.

Na realidade, esta conversa foi mesmo muito natural.

E qual não é o meu espanto quando, dias depois, esta mulher me diz:

“Estou tão contente. Você sabe que fiz aquilo que você disse e funcionou lindamente? O meu marido nem está bem a acreditar.”

Então, parece que explicaram à menina que não cabia tudo no quarto e ela optou por tirar a casinha e colocar o cavalete. Deram a casinha a uma instituição. A menina adormece na sua cama na presença da mãe ou do pai (“ainda chora um bocadinho…”), que saem do quarto depois dela adormecer. Dorme toda a noite na sua cama e aos fins de semana quando acorda vai um pouco para a cama dos pais para mimos!

E assim se estabelecem e respeitam as necessidades e os limites dos pais e da criança. E assim se confia naquela menina, que “só” tem 3 anos! Sem lugar a “sofrimentos” de maior.

E assim se entranha a Parentalidade Consciente! E é tão bom!

Rita Duarte