Os Professores precisam de uma Escola-Casa, precisam de fazer da sala de aula a sua sala de estar – e, na verdade, a sua cozinha, o seu jardim, o seu atelier inspiração.
Havia de existir, na Escola, quem fosse o Cuidador do Professor que lhe levasse, na primeira hora da manhã, flores frescas para a sala [e um café extra nos dias cinzentos ].
Os Professores não merecem aulas de noventa minutos, nem sequer merecem aulas. O dia a dia de um professor havia de ser passado onde e como ele bem quisesse, junto dos seus alunos-convidados, na sua casa-escola ou fora dela, nesse espaço maravilhoso que é a escola-jardim, a escola-rua, a escola-mundo.
Os Professores precisam de ter, uma vez por semana, Conselhos Amorósicos que lhes falem de compreensão e esperança e happy hours todos os dias; precisam de sentir-se aprendizes junto das crianças e de poder mudar de profissão quando deixarem de estar apaixonados pela infância e pelo que fazem.
Os Professores precisam de poder errar, de não ter metas rígidas a cumprir, de fazer da escola uma brincadeira de crianças, no que de mais sério, proveitoso e transformador esta encerra.
Mais do que ensinar, os Professores precisam de inspirar, precisam de se sentir livres e poderosos, tranquilos e entusiasmados, cada manhã, para que, ao fim do dia, as nossas crianças também se sintam assim.
Precisam de recuperar as forças e o desejo para abrir as janelas de par em par [ e tantas vezes quebrar as grades de preconceitos e crenças ] e respirar o ar fresco, sem medo do arrepio que vem com a mudança.
Os Professores precisam de Centros de Recursos Positivos repletos de ferramentas para a mochila das horas difíceis, precisam de um Plano de Apoio ao Estudo ao longo da vida sobre o que lhes põe os olhos a brilhar.
Os Professores precisam de querer levar trabalho para casa, não ser obrigados a fazê-lo.
Os Professores precisam de abrandar o ritmo, largar as rédeas e ser levados ao colo, sim. Precisam de ser ouvidos, acarinhados e salvos da avalanche que a infância [ ou a juventude ] multiplicada por vinte consegue ser.
Precisam de ter onde [ e com quem ] dividir angústias e somar contactos, de ter mais poesia nos seus dias e relançar os dados da equação da educação – torná-la integral, diversificada e significativa para as crianças destes tempos.
Os Professores precisam de avaliar sorrisos e ser avaliados pelo número de vidas que tocam, precisam de um Ginásio para a mente onde haja espaço para treinar a flexibilidade do pensamento, onde possam relaxar os músculos da calma e onde redescubram o ritmo acelerado de um coração que está vivo.
Os Professores precisam de receber em dobro tudo que dão para que nunca se sintam fonte sem água, essa que acalma a sede [ de tudo ] das nossas crianças. Precisam de uma Cantina onde se sirvam bolinhos da boa sorte todos os dias, onde haja sempre disponível chá que aqueça as mãos frias dos Invernos do ano lectivo.
Precisam de ter direções solares e Ministérios movidos a eólicas para que as energias sejam sempre renováveis, livres de emoções tóxicas e sentimentos poluentes- ou então aprenderem a fazer a sua própria central ecológica.
Os Professores precisam de um Livro de Ponto(s) – onde registem os pontos de interrogação em cada desafio lançado, e os pontos de exclamação em cada fim de dia cansado. E onde coloquem os pontos finais no desânimo e práticas obsoletas, onde possam fazer as pausas necessárias entre parágrafos longos demais, e escrever as orações que lhes devolvam a fé na missão que escolheram para a sua vida.
Precisam de um Livro em Branco que se encha, cada Setembro, ( ou em cada Primavera!) de cores vibrantes que são a expressão única de cada criança e de cada viagem que com elas fazem; um livro de cujas páginas saiam só notas de música, uma sinfonia tocada a múltiplas mãos e inteligências, mais ou menos (des)afinada, mas cheia de emoção, aprendizagens e sempre, sempre original.
Mariana Bacelar
… Faz muito tempo que não via alguém olhar o Professor com este enorme carinho que (também) precisa.